
Opinião de Pedro Pereira da Silva
O país foi a votos e o povo pronunciou-se. No país e no concelho, venceu a Aliança Democrática (AD). Há uma clara maioria das direitas. E uma derrota das esquerdas. E isto convoca-nos a refletir sobre o que politicamente se avizinha, não só no país, mas também no nosso cantinho “espraiado entre pinhais, rio e mar”…
A vitória da AD em Vila do Conde com 30,67% dos votos, face a um PS com 29,64%, desafia a visão do concelho como um bastião socialista. Se dúvidas não houvesse, analisando anteriores resultados locais em eleições legislativas, está desfeito o mito de que Vila do Conde é um inabalável concelho de esquerda.
Há seguramente um importante número de eleitores “indecisos”, dispostos a mudar o seu sentido de voto em função das circunstâncias políticas e do efeito das campanhas eleitorais. E se a força do poder socialista instalado localmente serve de contra-argumento para a tal definição sociopolítica do concelho, o certo é que a recente visita de Pedro Nuno Santos a Vila do Conde, acompanhado pelo Presidente da Câmara, além da panóplia de visitas de governantes socialistas ao longo dos dois últimos anos, não foram suficientes para galvanizar o apoio local em torno do PS, que perdeu aproximadamente 4000 votos.
Nas últimas autárquicas, o PS obteve 18.395 votos, o que lhe permitiu, devido ao método de Hondt, ter uma maioria absoluta na Câmara Municipal, com a eleição de 5 vereadores em 9. Todavia, se somarmos o número de votos da NAU com os do PSD, verificamos que 19.019 eleitores não votaram no PS para governar o Município. Analisando por espaços políticos e considerando os partidos sem representação na Câmara, verificamos que o número de eleitores que não votaram à esquerda sobe para 21.311 face a 20.690 votos (na esquerda). É claro que não podemos, com rigor, situar o espaço político onde se enquadra o movimento NAU… Mas, à luz do desenvolvimento da política local, é hoje mais do que certo de que jamais se coadunarão com o PS. E se políticos e eleitores não são a mesma face de uma moeda, uma análise da história eleitoral leva-nos a concluir que a maioria dos votos da NAU proveio de tradicionais eleitores do PSD.
O desafio recai, agora, sobre a liderança do PSD local, que tem a oportunidade de aglutinar o espaço democrático e não socialista para replicar esta vitória da AD nas autárquicas, apresentando um projeto político credível, com uma visão estratégica de desenvolvimento do concelho e com rostos que demonstrem capacidade para governar o Município. Enquanto o PS local procura mostrar que trabalha megalomaniacamente, o certo é que o concelho continua com vários dos seus problemas estruturantes por resolver. A isto, acresce uma governação anacronicamente prepotente, acérrima em guerras políticas sem qualquer utilidade, que lhe vem aumentando o número de inimigos. E como diria Maquiavel, “uma mudança deixa sempre espaço para uma nova mudança”…
Publicado no jornal a 20 de março. Outras opiniões: Miguel Torres, João Paulo Meneses, Carlos Real, Elizabeth Real de Oliveira e R. Cunha Reis. Na atual edição em papel: Abel Maia, Gualter Sarmento, Adelina Piloto, João Paulo Meneses e Carolina Vilano.

