Mário Amorim Lopes tomou posse, no passado dia 26 de março, como deputado na Assembleia da República, em concreto no grupo parlamentar da Iniciativa Liberal, partido pelo qual foi eleito depois de encabeçar a lista no distrito de Aveiro. O professor auxiliar da Universidade do Porto, docente na Porto Business School e investigador do INESC_TEC, reside em Vila do Conde há vários anos o que serviu de mote para a entrevista que publicamos em seguida.

 

A sua eleição em Aveiro foi histórica para a Iniciativa Liberal já que é a primeira vez que o partido terá um deputado por esse círculo eleitoral. Aumenta a sua responsabilidade?

Mário Amorim Lopes (ML) – Aumenta. Mas a nossa responsabilidade sempre foi muito elevada: há cada vez mais gente que deposita em nós a sua confiança e que vê na Iniciativa Liberal um farol de esperança. A esperança de que podemos ser um grande país, ombro a ombro com outros países europeus. Desiludiremos estas pessoas se não fizermos tudo ao nosso alcance para tentar mudar Portugal. E sinto uma enorme responsabilidade para com os meus filhos e para com os filhos de todos os portugueses: está na hora de lhes deixar um país próspero.

Enquadra a sua eleição num contexto de consolidação nacional da IL ou numa reação positiva dos eleitores às propostas, mais concretas, para o distrito?

ML – Será sempre uma combinação de ambas. Estar no terreno e ouvir as pessoas, as associações, as escolas, as empresas e perceber o que as move e os problemas que têm causa certamente impacto. A política de proximidade funciona e faz muita falta a Portugal, sobretudo para haver maior responsabilização e para as pessoas se sentirem envolvidas na política. Por outro lado, Aveiro representa verdadeiramente o espírito da Iniciativa Liberal. Um distrito de gente empreendedora, trabalhadora, de manga arregaçada, que não fica de mão estendida à espera do Estado — não há nada mais liberal do que isto.

Vai para a Assembleia da República num dos momentos mais crispados da política nacional. Como antevê o mandato?

ML – Vai ser duro e exigente. As pessoas estão desiludidas, angustiadas, e têm razão para isso. Alguns partidos conseguiram cavalgar esse ressentimento, mesmo que não tenham qualquer plano para o país. O Parlamento está mais fragmentado. Mas só há uma forma de recuperarmos a esperança na democracia e na política: fazer um grande trabalho enquanto lá estivermos. E mais importante do que tudo, percebermos que existe algo muito acima de tática política, de interesses partidários e sobretudo de interesses pessoais: Portugal e os portugueses.

Face ao resultado das eleições, “mudar o país” (o lema da IL) é ainda um trabalho em curso?

ML – Não me considero uma pessoa particularmente teimosa, mas com isto sou mesmo obstinado: acredito mesmo que um Portugal grande, rico e próspero é possível. Outras pequenas economias abertas europeias conseguiram-no, e nós não somos menos do que irlandeses, holandeses ou belgas. Fala-se muito da grandeza de Portugal no tempo dos descobrimentos, em que desbravamos oceanos e continentes, mas esta pulsão ainda aqui continua. O problema é que escolhemos más políticas implementadas por maus políticos. Mas ainda vamos a tempo de mudar. E nós temos mesmo de mudar. Há um país para cumprir.

No parlamento não são muitos os chamados homens da ciência como o Mário Amorim Lopes. Já é tempo de também nisso, serem quebradas algumas ideias-feitas?

ML – Não sei a que ideias-feitas se refere (se é, por exemplo, ao facto de o Parlamento ser sobretudo povoado por juristas e advogados?), mas vir da ciência traz-me algumas particularidades: uma tendência para tentar perceber que evidência existe para suportar uma determinada política e também um gosto por fazer política comparada, ou seja, perceber o que é que os outros países fizeram, o que correu bem e o que correu mal. Há muito para aprender com outros, não precisamos de cometer os mesmos erros. E também uma tendência para tentar despolitizar determinadas áreas da nossa vida. Acho que educação e saúde, por exemplo, estão demasiado politizadas. Enfim, ciência é rigor no método, pelo que faz sentido colocar rigor na formulação de políticas públicas.

Num registo mais pessoal, reside em Vila do Conde há seis anos. Algum motivo para ter escolhido o concelho para viver? Qual a sua visão sobre ele?

ML – Porque queria fugir da azáfama da cidade e sobretudo porque queria que os meus filhos pudessem viver entre a praia e o campo, respirar ar puro, aproveitar a natureza, sujarem-se na terra. A primeira palavra que o meu filho mais velho disse, antes de papá ou mamã, foi trátô (assim, com sotaque afrancesado). Volta e meia vou com eles a lavradeiras que vivem perto de mim e vamos colher grelos ou pencas. Isto já não existe em cidades como Porto ou Lisboa. Para além disto tudo, passei as férias da minha infância sempre em Mindelo (nota histórica: os Bravos do Mindelo são um marco histórico da importância do liberalismo na instituição da monarquia constitucional e no fim do absolutismo, desta forma limitando o poder do Estado), de onde guardava, e guardo, excelentes recordações.

Costuma aproveitar outras características locais para descontrair, por exemplo?

ML – Aproveito muito. Aproveito os passadiços, aproveito o mercado rural aos Sábados de manhã, onde vou com os meus filhos. Aproveito o bom peixe das Caxinas. Aproveito o centrinho e quando era jovem solteiro aproveitava também o Forte S. João nas noites de Verão. E aproveito também as praias, de Labruge a Mindelo. Aliás, se há memória que me ficou da infância foi a das noites tórridas de verão do Porto, em que mal dormia com o calor, e as noites amenas e descansadas em Mindelo. E por falar em Mindelo, aproveito também a reserva ornitológica. E aprecio muito Camilo Castelo Branco, que, não sendo de Vila do Conde, viveu parte da sua vida lá. É um concelho com uma enorme qualidade de vida.

Será deputado por Aveiro (distrito da sua Avó), mas também, tendo uma forte ligação ao Porto (onde nasceu e trabalha), terá naturalmente um especial interesse pelos assuntos deste distrito. Nesse sentido, também por Vila do Conde, onde mora?

ML – Com certeza. Mas enquanto deputado da nação, eu tenho de representar todos os portugueses. É um dever constitucional. Costumo dizer, e é sentido, que o distrito de Aveiro é a montra do Portugal do futuro, no sentido em que alia a capacidade industrial dos concelhos do Norte, o empreendedorismo que emana da Universidade de Aveiro e do PCI em Ílhavo, e a riqueza da agropecuária dos concelhos do sul. Se Aveiro é a montra do futuro, Vila do Conde representa aquilo que devemos preservar com a mudança que urge. No fundo uma bússola que nos diga para onde devemos ir e também para onde não devemos ir — para parafrasear José Régio.

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