Uma das principais conquistas do 25 de abril foi a abertura do espartilho que sufocava a comunicação social e particularmente a imprensa. Ao longo de 50 anos também nos “media” muito mudou, é certo, sobretudo no acesso a fontes de informação com o surgimento da Internet que, em muitos casos, está a ser mãe e madrasta das publicações em papel. Estas, paradoxalmente e num mundo recheado de “fake news” (notícias falsas), parecem querer reassumir a importância que sempre tiveram na transmissão de um conhecimento atual, verdadeiro e em que se possa confiar, mas esse será certamente um caminho lento e difícil já que os jornais estão, como os próprios assumem, com dificuldade em recuperar leitores.
E em Vila do Conde?
Para perceber melhor como anda o negócio dos jornais e revistas, o Terras do Ave falou com proprietários e funcionários de três pontos de venda no centro da cidade e a pergunta inicial foi óbvia: os vilacondenses ainda têm o hábito de comprar?
“Nem por isso”, foi a resposta de José Pereira do café Bom Pastor, na Avenida Dr. João Canavarro e a mesma situação acontece na papelaria Convívio, na mesma artéria, onde Lurdes Ramos e Diamantina Xavier contaram que “não tem havido um acréscimo [na venda de jornais], antes pelo contrário”. “A venda tem diminuído cada vez mais ao longo dos anos”, confirmou Ana Silva, funcionária no Tico Tico Bazar, localizado no centro comercial Alameda, que adianta uma possível explicação: “quase todos têm versão online”. Nos três estabelecimentos constatou-se os consumidores de jornais são, na sua maioria, “sem dúvida, as pessoas mais velhas”, declarou Lurdes Ramos já que “ainda gostam do papel, do produto físico”, disse José Pereira. Já “os mais novos é tudo na Internet”.
Embora se atravessem tempos difíceis, os três estabelecimentos localizados no centro de Vila do Conde, ainda conseguem manter as portas abertas até porque têm mais oferta. “Já correu melhor”, mas também “já foi pior”, contou José Pereira do Bom Pastor, café que existe há cerca de 70 anos em pleno centro da cidade. “Não há muito dinheiro e as pessoas cortam naquilo que não é essencial”, explicou acrescentando que “o que ainda vai dando é o jogo [euromilhões, raspadinhas e afins]”. No Tico Tico Bazar, a situação é semelhante. A loja encontra-se aberta há cerca de 25 anos, “desde a abertura do centro comercial”, disse Ana Silva, e teve “sempre o mesmo dono”.
A papelaria Convívio tem este ano outro cinquentenário para festejar já que, tal como a revolução, surgiu em 1974. Lurdes Ramos e Diamantina Xavier dizem que o negócio “não dá para enriquecer, mas dá para manter os nossos postos de trabalho”. Lurdes acrescentou ainda que “é bom” que o negócio se esteja a aguentar “para haver aqui no centro uma livraria, papelaria e quiosque”, onde é possível adquirir os jornais e revistas, para quem ainda prefere o papel confiável.
- Carla Gonçalves
- Ana Silva
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