
Opinião de João Paulo Meneses
1. O Rio Ave esteve um ano sem poder contratar jogadores e a primeira volta desta época refletiu isso mesmo: a equipa estava em 16º, o lugar que levaria à discussão de um play off com o terceiro da segunda liga (o mesmo lugar de que determinou a descida de divisão há duas épocas). Vieram, entretanto, onze jogadores e todos esperávamos que, senão de imediato, a equipa começasse a mostrar diferenças. Passaram 9 jogos e o Rio Ave apenas conseguiu uma vitória. Também só consentiu uma derrota (Famalicão), o que vale por dizer que o resto foram (7) empates. Em tempos tivemos um treinador que popularizou uma expressão (mais vale somar do que sumir) identificadora da mentalidade do pontinho, do jogar para o empate. Hoje o Rio Ave não joga para o empate, há que o reconhecer, mas não descola na classificação (15º nesta altura). Gostava de vos trazer uma explicação, mas não consigo. Apenas constato os factos. E um dos factos é que o treinador muda o onze todas as semanas. Há algo em particular que me intriga: o Rio Ave fez frente ao Sporting um dos melhores jogos da época, marcando três golos. Nesse jogo, Luís Freire apresentou um sistema tático muito diferente de tudo o que lhe (re)conhecemos (três avançados e dois médios mais recuados, para além dos cinco que habitualmente defendem) e que deu excelentes resultados. Aqueles onze nunca mais voltaram a jogar juntos de início. Aliás, tirando Aziz, Embaló e, mais recentemente, Adrien, parece que o treinador ainda procura encaixar os reforços.
2. Ou seja, os dois últimos jogos resultaram em dois empates. Frente ao Braga, o Rio Ave voltou a mostrar boa cara, a que quem olha o adversário nos olhos, mostra atitude e vontade. Qualquer uma das equipas podia ter vencido e isso é o maior elogio que se pode fazer ao Rio Ave. Já em Faro, voltámos a ver o Rio Ave sonolento, que entra mal nos jogos (o próprio treinador o reconheceu) e que só acorda quando está a perder ou, sobretudo, quando empata e a vitória parece mais próxima. As estatísticas dizem que o Rio Ave teve uma grande oportunidade (que transformou), em três remates enquadrados com a baliza, e o Farense duas. É muito pouco para uma equipa que quer e precisa de ganhar jogos. Mais uma vez, depois das ‘promessas’ feitas frente ao Braga, quem viu o jogo com o Farense ficou com uma certa desilusão.
3. O melhor marcador do Rio Ave tem 6 golos (Boateng) o que significa que não há nenhum marcador na lista dos melhores 25 de todo o campeonato (Boateng está no topo, mas é dos que têm mais oportunidades falhadas). Aziz chegou e marcou 4, mas é insuficiente. Parece claro que falta mais alguém na frente, até porque Aziz e Boateng, pelos vistos, não são compatíveis em simultâneo para Freire. Se o Rio Ave sofre poucos golos, então o que está a falhar é o ataque.
4. O problema é que faltam 8 jogos – e o último é com o Benfica (não o dou como perdido, mas todos sabemos que, seja ou não decisivo, será sempre um adversário difícil de derrotar). O Rio Ave continua a ser a única equipa que não ganha um jogo fora esta época (já passou mais de um ano desde que isso aconteceu) e começa a sentir-se alguma apreensão. Para ser claro: o Rio Ave deveria estar a jogar mais e melhor hoje do que no final da primeira volta, mas não me parece que assim seja. Jogadores não faltam, então falta o quê? Por isso falo numa certa desilusão.
5. Ontem passaram 4 meses desde a realização da Assembleia Geral Extraordinária e sabemos hoje o que sabíamos a 20 de novembro. Todos se lembram da urgência com que o processo foi discutido e aprovado. Foi-nos dito que tinha de ser assim, para haver negócio. Mas quatro meses não é compatível com essa urgência nem, muito menos, com a falta de informação aos sócios. Há quase dois meses escrevi aqui que acreditava que saberíamos novidades dentro em breve, mas enganei-me. Em quatro meses fazem-se grandes negócios em qualquer parte do mundo, este também teria de se concretizar nesse prazo, já dilatado. Se há algum problema, temos obrigação de saber. Se está tudo bem, temos o direito de saber. Assim, não. Espero que uma coisa (a concretização do negócio) não tenha a ver com a outra (a prestação desportiva), porque isso poderia ser sinónimo de instabilidade e de desinteresse, depois de tudo o que nos foi prometido.
Publicado no jornal a 20 de março. Outras opiniões: R. Cunha Reis, Miguel Torres, Carlos Real, Elizabeth Real de Oliveira e Pedro Pereira da Silva.
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