Opinião de Gualter Sarmento

“Pela Europa e pelo Mundo vão despontando alguns líderes que alcançam alarmantes êxitos eleitorais, entre outros Viktor Orbán na Hungria, Geert Wilders na Holanda, Marine Le Pen em França (…). Por cá, não obstante a diminuta expressão eleitoral das forças políticas assumidamente de Extrema-Direita, sente-se, no nosso quotidiano, a disseminação dos seus conceitos. E é esse latejar do monstro que nos deve inquietar porque basta que surja um líder carismático, considerado justiceiro, aparentemente credível e que saiba exaltar as suas pérfidas ideias para logo potenciar o seu crescimento.”

Este trecho consta de um artigo de opinião que escrevi em Novembro de 2018. Antes da formação do Chega que só foi fundado no ano seguinte. Adivinhava-se! Nem foi necessário um líder credível. O André Ventura também serviu. Aquele que nos debates futebolísticos jurava a pés juntos que a camisola do adversário é que tinha puxado a mão do jogador da sua equipa.

Mentia no futebol, aldraba na Política. Demonstra perfeito conhecimento dos truques a utilizar desde o seu doutoramento onde, já na tese, descrevia o populismo como o “processo pelo qual os políticos aproveitam e usam para sua vantagem aquilo que crêem ser a generalizada vontade de punição do público”. Artimanhas que o proto-fascista põe agora em prática atraindo os mais incautos. Utiliza a fórmula dos maiores facínoras e populistas da História adaptando a verborreia à sociedade portuguesa. Ataca os ciganos como outros combateram judeus, mexicanos ou índios. Comunica falsidades como outrora se repetiram mentiras até se tornarem “verdades”. Sem qualquer escrúpulo, apresenta-se como escolhido por Deus como se Ele validasse o ódio e a intolerância preconizados pelo Chega. Rejeita o 25 de Abril e incita à criação da 4ª República, ao regresso dos tempos do Fascismo, da perseguição política e da Censura. Trata-se de uma receita já experimentada. Conhecida de ginjeira. Mas que, infelizmente, os cidadãos parecem ter esquecido. E aderem, arrebanhados pela fanfarronice de alguém que não tem um pingo de vergonha na cara. De tal forma que são mesmo capazes de votar em quem defende a privatização de Serviços que hoje dispõem e que depois não poderiam pagar. No dia 10 de Março vamos fazer Abril de novo!

Publicado no jornal a 6 de março. Outras opiniões: Adelina Piloto, João Paulo Meneses, Abel Maia e Sara Padre. Na atual edição em papel: R. Cunha Reis, Pedro Pereira da Silva, João Paulo Meneses, Carlos Real e Miguel Torres.

Array