Opinião de Miguel Torres

 

Uma das coisas que a pandemia nos trouxe foi um maior entendimento geral de como os vírus se propagam. Durante dois anos ouvimos continuamente conselhos para manter a distância, não frequentar locais fechados com muita gente ou lavar as mãos e higienizar convenientemente.

Curiosamente, nenhum conselho relacionado com a pandemia incluía os clássicos: “Não andes descalço”, “Cuidado com as correntes de ar” e “Não vás para a água antes de fazer a digestão”.

No entanto, agora que um ano se passou, parece que todas as precauções reais e com base científica foram substituídas pelos conselhos da avozinha. Aqui no Reino Unido nem tanto, até porque já era diferente. As pessoas doentes são aconselhadas a ficar em casa pelos próprios empregadores e, já aconteceu inúmeras vezes, quando algum amigo tem alguns sintomas ligeiros de doença, diz logo que não vai a determinado evento social para evitar contágios.

Mas ainda mais irritante são os pés descalços e as correntes de ar. Uma vez, no Japão quando entrei calçado num restaurante, a empregada quase sucumbiu num ataque de pânico por eu ter trazido milhões de vírus nas solas dos meus sapatos. Já em Portugal, andar descalço num piso laminado é meio caminho andado para uma pneumonia. Por outro lado, enquanto circulação de ar é aceite como algo bom, correntes de ar, que é exatamente a mesma coisa, parecem provocar uma diminuição da esperança de vida em 23 anos.

Confesso que este verão acabei contagiado por esta epidemia de estupidez e acabei por apanhar uma virose e transmitir ao resto da família. Isto porque frequentei o restaurante buffet do meu hotel, comendo tagliatelle com molho de espirro, tomate expectoração de boi e baba de camelo doente. Nem o facto de estar calçado e com as janelas fechadas me salvou.

 

 

Edição de 4 de outubro

 

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